Não te amo, quero-te; o amor vem d’alma.
E eu n’alma tenho a calma,
A calma da sepultura.
Ai! Não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida nem sentido
Atrago eu já comigo.
Ai! Não te amo, não!
Não te amo, não; e só te quero
Se um querer bruto e selvagem.
Que o sangue me devora,
Não chega do coração.
Não te amo. És bela, e eu
Não te amo, ó bela.
Quem ama a azarenta estrela.
Que lhe dá luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo,
Que é forçada,
De mau feitiço oportuno
Este indigno furor.
Mas oh! Não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto.
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amor... não te amo, não.
Autor:Almeida Garrett
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